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Parceria entre órgãos municipais fomenta potencial ribeirinho para o comércio da pesca

76601_235314Após três dias de palestras foi encerrada nesta quinta-feira, 01, a III Semana de Qualificação Profissional da Casa-Escola da Pesca (Cepe), realizada na sede da instituição, no distrito de Outeiro. Promovido pela Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque) o evento discutiu projetos sustentáveis para a região das ilhas de Belém e realizou palestras sobre empreendedorismo e valorização da cultura ribeirinha.

Cerca de 100 estudantes de Pesca e Aquicultura participaram da semana de qualificação, dentre eles Ciane Rodrigues de Albuquerque, 20, aluna da Cepe, em seu último ano de formação. A jovem é moradora da ilha de Jutuba e tem no quintal de sua casa os principais recursos naturais da região amazônica. Para a estudante, a pesca é a principal fonte de renda da família e desde pequena ela já sabe como é sentir a força do peixe puxando as redes.

Ciane Rodrigues de Albuquerque, estudante.
Ciane Rodrigues de Albuquerque, estudante.

“Comecei a pescar com 12 anos de idade. O maior peixe que já pesquei foi uma dourada, que pesava sete quilos. A pesca faz parte do meu cotidiano. Eu e minha família somos ribeirinhos e vivemos disso. Quis fazer uma formação em pesca para poder proporcionar uma vida melhor para minha família”, conta Ciane.

Para a jovem, arrumar a bolsa com tudo que precisa para passar quinze dias fora de casa já faz parte de sua rotina acadêmica. Isso porque a Cepe trabalha metodologicamente com a pedagogia da alternância, que consiste em alternar períodos de estudos na escola e no campo. Os alunos são separados por sexo e se revezam quinzenalmente em um sistema integral de estudos.Eles passam esses períodos morando nos alojamentos da instituição.

Diretora da Cepe, professora Maria de Fátima Ferreira Seabra.
Diretora da Cepe, professora Maria de Fátima Ferreira Seabra.

“Além de desenvolvermos um trabalho ambiental de sustentabilidade, a Casa-Escola da Pesca proporciona a valorização da cultura ribeirinha amazônica. Queremos que nossos alunos trabalhem com o ecoturismo, pois além da pesca e do açaí, essa é mais uma forma de renda para a comunidade”, declara a diretora da Cepe, professora Maria de Fátima Ferreira Seabra.

Parcerias

A atual gestão municipal é baseada nos princípios de gestão coletiva. Para  obter êxito em projetos de grande porte, a Prefeitura de Belém parte do princípio da integração total entre as secretarias e órgãos municipais. Segundo o diretor-presidente da Agência Reguladora Municipal de Água e Esgoto de Belém (Amae), Antônio de Noronha Tavares, as comunidades ribeirinhas possuem grande potencial para aproveitar de forma sustentável os recursos naturais das ilhas e rios da capital.

“O grande potencial de comércio do pescado e do açaí das comunidades ribeirinhas de Belém é algo a ser desenvolvido e fomentado. A Amae, além de ser fiscalizador dos serviços de saneamento básico, é também um órgão de planejamento e por isso está juntando forças com outras secretarias municipais para ajudar a viabilizar projetos que valorizem e melhorem a vida das pessoas que moram nessas ilhas”, diz Noronha.

Para a presidente da Funbosque, Carol Rezende, projetos como a Casa-Escola da Pesca nunca iriam para frente se não houvesse esse trabalho conjunto. “Temos parcerias com as secretarias de Saúde, Educação, Meio Ambiente assim como a Amae e Fundação de Assistência ao Estudante. Essas parcerias fazem com que nossos projetos se tornem projetos grandes. Conseguimos ganhar mais visibilidade e atender um número bem maior de pessoas da comunidade ribeirinha”, afirma Carol.

Como grande parceira, a Amae vem exercendo um papel fundamental na busca de melhorias para a vida da população ribeirinha de Belém. Atualmente a agência reguladora está à frente do projeto que implantará sistemas de captação de água da chuva para as moradias das ilhas da capital.

Apoio em logística

Foto-simulação do centro de comercialização, distribuição e armazenagem da pesca.
Foto-simulação do centro de comercialização, distribuição e armazenagem da pesca.

A  Amae também criou o projeto arquitetônico da Escola de Gastronomia e Centro de Produção, Comercialização, Distribuição e Armazenagem da Pesca que irá abranger sistema de abastecimento de água da chuva, tratamento do esgoto sanitário, energia solar, reciclagem e compostagem do lixo e sua utilização no programa horta escolar e comunitária.

O projeto foi apresentado aos alunos, professores e parceiros da Casa-Escola da Pesca que participaram do primeiro dia de programação da III Semana de Qualificação Profissional.

Segundo Alderi Tabanara, técnico em serviços públicos da Amae, “se analisarmos o mercado da pesca, fonte de renda da população ribeirinha, se constata que o produtor local enfrenta grandes dificuldades na comercialização tanto do pescado quanto do açaí.” Para ele, o centro de produção, comercialização, distribuição e armazenagem da pesca vai melhorar em grande escala a vida da comunidade ribeirinha.

Técnico em serviços públicos da Amae, Alderi Tabanara.
Técnico em serviços públicos da Amae, Alderi Tabanara.

A travessia para transportar os produtos até Belém dificulta o trabalho dos ribeirinhos. Essa travessia é muitas vezes perigosa e resulta em altos custos de combustível. “Os produtores locais poderão vender em grande escala, isso irá gerar renda para esses ribeirinhos. Tendo um espaço mais perto de onde eles moram, todos os produtos poderão ser comercializados e armazenados. Eles não irão mais ter o custo de fazer a travessia até Belém”, explica Alderi.

Empreendedorismo na piscicultura, valorização e sustentabilidade da vida ribeirinha, sociobiodiversidade, cultura do açaí, geração de renda em comunidades ribeirinhas e tecnologia de processamento do pescado foram alguns dos temas ministrados nas palestras da III Semana de Qualificação Profissional.

Casa-Escola da Pesca

Inaugurada em 2008, a Casa-Escola da Pesca possui uma ampla estrutura para atender cerca de 100 alunos de ensino fundamental e médio com ênfase em pesca e aquicultura. Trabalhando com a pedagogia de alternância a escola possui alojamentos climatizados, auditório, laboratório para processamento do pescado, viveiros de peixes e horta.

76601_235318Todos os alunos são moradores das ilhas de Belém. Quinzenalmente, de forma alternada, uma lancha busca os alunos em suas respectivas ilhas e leva até a escola. Lá eles permanecem quinze dias estudando em regime integral. A Cepe já formou sete turmas de ensino fundamental e uma de ensino médio.

A instituição é coordenada pela Fundação Centro de Referência em Educação Ambiental Escola Bosque Professor Eidorfe Moreira (Funbosque) e fica localizada na Rua Evandro Bona, Passagem São José, nº 70, no distrito de Outeiro.

 

Texto: Caroline Torres.

Fotos: Ascom Amae.